São Paulo 459 anos.
Brilhos
incessantes ofuscam a noite na avenida. Arranha-céus rasgam os ares com suas
luzes, e aqui e acolá uma antena sobe além de nossa visão. Seus fachos de luz
se projetando ao céu e iluminando as nuvens comuns nessa época do ano. Terra da
garoa, como já foi outrora conhecida, outrora, pois hoje, dizem os mais
antigos, já não garoa tanto como antigamente. Pode até não garoar, mas chove e
chove muito. De uns anos para cá, essa nossa megalópole voraz tem engolido as
cidades vizinhas e levado seu frenesi a todos os cantos, já ninguém dorme, ou
come, ou vive direito. Você vive, segue o caminho, sempre atrasado, sempre
estressado, irritado talvez. E a chuva, que começou um pouco acima, ainda cai,
e alaga a pista por onde passaria o ônibus, e tudo se atrasa ainda mais,
estressa mais e vive cada vez menos, mesmo com os anos passando e chegando a
números mais altos. Aquela velha história, 84 com corpinho de 60, mas tendo
vivido mesmo menos de 30. É assim a vida nessa cidade. Vive-se pouco por muito
tempo. Poucos são aqueles que sentem prazer verdadeiro vivendo aqui, por todos
os lados, todos querem fugir. Feriado à vista, ainda longe no calendário, já
mobiliza família e amigos, vamos todos para a praia. Na véspera você assiste o
jornal, apenas para ver a previsão do tempo confirmar aquilo que no céu já se
anuncia, vai chover, de sexta a domingo, e o passeio?... ...O passeio vai acontecer de qualquer forma.
Não há chuva que afaste um paulistano da praia. No final da tarde de
quinta-feira todos entram em seus carros, outros nos ônibus, vamos fugir,
escapar desse transito louco que nos cerca, vamos... Caímos na armadilha, doze
horas num trajeto de pouco mais de cem quilômetros, teria sido mais rápido ir a
pé. Mas tudo bem, chegando à praia tudo se resolverá: nada de fila, nada de trânsito,
nada de estresse, duas horas depois de chegar, a ilusão se desfaz, conosco
vieram um ou dois milhões de paulistanos, e junto com eles as filas, o trânsito
e o estresse característico desse povo apressado, a praia está um inferno. O
supermercado parece ter saído de um filme de “fim-do-mundo”, prateleiras
vazias, não se encontra nem mesmo água e as filas para comprar pão dão volta no
quarteirão. Mas levamos o final de semana assim mesmo, dormindo pouco e bebendo
muito, bebendo para afogar as mágoas e afastar o desespero que chega junto com
o domingo. É preciso voltar, ir para casa, na segunda-feira pela manhã tenho
trabalho a fazer. Perguntaram-me um tempo atrás, “por que você não deixa São
Paulo por um lugar mais tranquilo?” O quê, e perder tudo que essa cidade tem
para me oferecer? Não fale mal da minha cidade. Eu ADORO São Paulo.
Texto: Gabriel Diorgenes Nepomuceno
Imagem: Euzilene T. F. Nepomuceno
Texto: Gabriel Diorgenes Nepomuceno
Imagem: Euzilene T. F. Nepomuceno
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